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Henri Lefèbvre tinha algumas certezas na vida.
A primeira era que magia era real. Ele a tinha visto com os próprios olhos quando sua amiga de infância tinha se transformado completamente para se vingar da madrasta. E transformado uma abóbora em carruagem. E o vento em cavalos.
A segunda era que havia ratos no seu estábulo. Os cavalos estavam inquietos há semanas e ele podia ouvir o som de pequenas patinhas se movendo por trás dele sempre que se virava.
A terceira era que seu amigo Jacques era um completo idiota.
— Eu só acho que é o destino, sabe?
Henri parou a mão sobre o dorso do cavalo que estava escovando. Jacques estava apoiado na porteira da baia, com um sorriso apaixonado.
— Então a mademoiselle Eira foi trocada quando era criança por uma fada, foi levada para o outro mundo, forçada a trabalhar isolada por anos, e tudo isso… para vocês ficarem juntos no final?
— Bem, fica bem ruim quando você fala assim! Mas, é, mais ou menos isso. Ela merece ser feliz e eu mereço ser feliz! Nós somos o par perfeito.
Henri balançou a cabeça.
— E eu assumo que você tem um plano?
— Ah, sim! Eu tenho um plano. Você vai ver! — Jacques se estendeu por cima da porteira para dar um tapinha no ombro de Henri. — Você vai ver, amigão! Você ainda vai me ver casar com a mademoiselle Eira!
Jacques saiu do estábulo com um grito entusiasmado. Henri revirou os olhos. A égua, Penélope, ajeitou-se no lugar, como se estivesse contente por ele ter saído.
— Desculpe por isso, Penn… Ele é assim mesmo. — a égua virou a cabeça, como se não aceitasse desculpa nenhuma. — Ele vai cair em si, eventualmente. A mademoiselle… ela merece mais.
Henri ouviu de novo. O som baixo de patinhas, o barulho de dentinhos contra a palha atrás dele. Forçou-se a se concentrar na tarefa de agora. A última coisa que precisava era Penélope ficando nervosa de novo. Ela não tinha o melhor dos temperamentos.
— E não é porque ela seja nobre demais para nós, sabe? A bem da verdade, acho que ela se sente mais próxima de nós do que a mademoiselle… Clémence. Desculpe, ainda é difícil me acostumar. — Ele passou para a crina da égua, que o observou de canto de olho. — É só que… ela é… diferente. Especial. Ela viu coisas que nenhum de nós viu. Mas de uma coisa ele está certo… ela merece ser feliz. E felicidade é uma coisa… difícil nessas partes. Os falecidos Glynn que os digam.
Penélope soltou um relincho baixo, como se concordasse. Henri riu.
— Mas só porque Jacques sempre gostou de mademoiselle Clémence, não é justo que ele veja Eira como uma segunda chance… — Henri terminou e acariciou o focinho da égua. — Todo mundo merece alguém que goste deles por quem eles são, não é? Como… corajosa e gentil e… — Henri olhou por cima do ombro para ter certeza que ninguém estava ali — Não conte a Jacques nada disso, ok, Penn? Será nosso segredinho.
Ratos falantes eram bastante comuns no mundo das fadas, quase tanto quanto ratos normais. Eira fizera amizade com um grupo deles durante sua vida na Fortaleza da Mudadora. Não é como se tivesse outras oportunidades para socializar e eles ficavam felizes com o pouco que ela tinha a oferecer.
Quando se mudou para o mundo humano, os trouxe consigo, incapaz de se separar deles. Eles ficaram felizes em ir para um lugar onde eram bem-vindos ao invés de perseguidos. Mas, acima de tudo, ficaram exultantes por estarem em um lugar em que havia outras pessoas. Assim, os ratos falantes podiam passar grande parte dos seus dias fazendo o que faziam de melhor: fofocando sobre as pessoas da casa.
— EIRA! — guinchou Jeanette, o som de suas patinhas cruzando o chão da sala de música.
Eira estava debruçada sobre uma partitura, tentando se lembrar de suas lições com Clémence, e se virou para oferecer a mão para a ratinha subir.
— Sim, Jeanette? — perguntou Eira, sorrindo. — Algo novo para me contar?
A ratinha colocou as mãos sobre o focinho, como se mal conseguisse se conter.
— Sim! E essa é boa. Boa de verdade! A mademoiselle vai amar!
Eira a pousou sobre o tampo do piano de cauda.
— Bem, então vamos ouvir.
Jeanette limpou a garganta, colocando as duas patas dianteiras sobre a cintura.
— Eu acabei de descobrir que alguém gosta de você! — Eira esperou, mas Jeanette só soltou um guinchinho, pulando no lugar. — Estou tão feliz por você!
Eira sorriu, unindo as sobrancelhas. Embora tivesse havido um tempo em sua vida em que ninguém além da Mudadora sequer sabia que ela existia e a companhia era escassa – quando não inexistente –, esse tempo havia passado. Agora, ela vivia entre as pessoas e sempre havia alguém por perto.
— Eu sei, Jean, querida. Muitas pessoas gostam de mim aqui. Não é ótimo?
A rata piscou duas vezes antes de balançar a cabeça.
— Não, não, mademoiselle! Eu quero dizer que gostam gostam de você. — Eira mordeu o lado de dentro da boca. Jean apertou os olhos pretos. — Você não sabe o que isso significa, não é?
— Eu nem desconfio — admitiu Eira com um sorriso.
Jean colocou a cabeça nas patinhas antes de guinchar de novo.
— O que quero dizer é que monsieur Henri está apaixonado por você!
Eira ergueu uma sobrancelha.
— Por mim?
Amor romântico era um mistério. Eira ainda estava descobrindo o que amor familiar, algo que muitos têm desde sempre, significava. Não fazia nem ideia do que significava estar apaixonado.
Bretagne, o príncipe de Clémence, tinha muitos livros em que princesas bonitas eram resgatadas de torres e escolhiam se casar com seus heróis. Nessas histórias, amor era serviço. Casamento era uma gentileza, o retorno de um favor. Clémence, por outro lado, gostava de livros em que amor era proibido. Nessas histórias, ninguém tinha permissão para amar ninguém e amavam mesmo assim. Eira tinha conhecido poucos casais e o amor não parecia ser nenhuma dessas duas coisas para eles.
E ainda assim, a possibilidade de ser amada parecia… atraente. Eira sorriu sem perceber.
— Será verdade, Jeanny?
Jeanette se reavivou ao ver que Eira estava finalmente captando a importância da conversa.
— Sim, é verdade, eu ouvi tudinho! E os meninos também ouviram!
— E onde estão aqueles ratinhos levados?
— Ainda nos estábulos. Mandei eles ficarem ouvindo caso ele dissesse mais alguma coisa.
Nos estábulos… Eira olhou pela janela, na direção da construção baixa do outro lado do jardim. Talvez ela devesse dar uma passada…
Eira tentou ir aos estábulos, mas tinha esquecido que era onde ficavam os cavalos.
Um relincho vindo do lado de dentro e ela deu meia volta em direção à casa.
Onde ela tinha crescido, cavalos eram feitos de vento, ou de neve, ou de folhas, ou de cristal, ou de troncos, ou qualquer outra coisa assim. Cavalos feitos de carne a incomodavam mais do que conseguia admitir. Só de pensar em estar em um lugar fechado com eles…
Eira balançou a cabeça, antes de perceber que tinha alguém no seu caminho.
— Ah. Olá, monsieur Jacques. — Ela precisava olhar para cima para olhá-lo nos olhos. — Dia bonito, não?
Humanos adoravam dizer esse tipo de coisa. Eira achava adorável.
— Sim, mademoiselle. Belíssimo. E ainda mais bonito agora, em sua companhia.
Eira sorriu, sem ter muita certeza se devia dizer o mesmo para ele. Clémence tinha carinhosamente lhe informado que não precisava reciprocar todos os comentários que as pessoas faziam.
— Estava dando um passeio? — perguntou Jacques.
Eira assentiu, embora não fosse exatamente isso que queria fazer. No mundo das fadas, onde ninguém mentia, omitir informações assim era a forma mais fácil de passar despercebida.
— Mas acho que já vou para casa. — Ela olhou por cima do ombro para o estábulo, sentindo um arrepio percorrê-la.
Henri vinha saindo. Eira tentou notar se havia algo de diferente nele agora que ela sabia, se havia algum tipo de magia que mudava as pessoas quando gostavam de alguém. Mas seus olhos foram atraídos para o enorme cavalo que o rapaz trazia nas rédeas.
— Tem… algum problema? — Jacques ergueu uma das sobrancelhas.
Eira olhou para ele e rapidamente balançou a cabeça.
— Não. Não. Sem problema. Um bom dia, monsieur.
Ela se apressou para dentro da casa, antes que o cavalo pudesse chegar perto.
— Tudo bem, tenho o meu plano! E você vai me ajudar!
Henri estava colocando ratoeiras quando Jacques entrou no estábulo. Os cavalos estavam pastando no campo ao lado, sob o olhar atento de François, enquanto Henri limpava tudo ali.
— Eu vou?
— Sim! Eu acho que mademoiselle Eira quer aprender a cavalgar.
Henri uniu as sobrancelhas.
— Ela nunca disse isso.
A bem da verdade, Henri achava que nunca tinha visto a mademoiselle sequer olhar na direção dos estábulos.
— É claro! É embaraçoso para ela. Todo mundo sabe cavalgar.
Henri resmungou baixo.
— E o que é que você quer que eu faça?
— É só me ajudar a selar os cavalos e eu faço o resto. Pode ser?
Henri olhou para o estábulo sem feno. Ele supunha que ver Jacques falhar numa investida romântica era melhor do que ficar ali perseguindo os ratos, que podia ouvir guinchando quase como se rissem dele em algum lugar ali dentro.
— Tudo bem. Mas se não der certo, você vai ter que me ajudar aqui dentro.
— Pode deixar, Henri. Quando eu for lorde de Colmar, vou comprar quantas ratoeiras vocês quiser!
Eira entrou no estábulo determinada a falar com Henri. Ela tinha passado os últimos dias tropeçando pela leitura de livros de romance, tentando entender centenas de anos de experiência humana e continuava com mais perguntas do que respostas. Até Clémence tinha perguntado o que havia com ela, indicando que talvez houvesse realmente uma mudança física pela qual humanos como ela passavam quando encontravam um possível parceiro.
Mas os estábulos estavam vazios. Nada de cavalos. Até o feno do chão tinha sido retirado. Sobre a porta de uma das baias, Octavius e Paul, seus amigos ratos, jogavam cartas.
— Truco — disse Octavius e Paul apertou os olhinhos pretos.
— Meninos — chamou Eira, se aproximando. — Onde está monsieur Henri?
Paul ergueu os olhos para ela.
— No campo com os cavalos, mademoiselle. Ele e monsieur Jacques saíram cedo hoje. Acho que monsieur Henri está planejando uma surpresa.
— Uma surpresa?
Eira saiu do estábulo, pensativa. Surpresas eram definitivamente indicativos de romance nos livros. Sempre havia um piquenique em um lugar bonito e isolado, ou um casamento secreto, ou um presente feito sob medida.
Ela estava prestes a partir para o campo quando encontrou Jacques vindo daquela direção com um buquê de flores.
— Ah, mademoiselle! — Ele se aproximou com um sorriso, oferecendo as flores. — Exatamente quem eu queria ver. Eu colhi estas para você.
— Ah. — Eira não estendeu a mão para pegar o buquê. No reino das fadas, todos os presentes requeriam algo em troca. Além disso, algumas das melhores pessoas que tinha conhecido eram flores e ela não achava muito educado tirá-las do lugar. Ainda assim, de acordo com os livros de Clémence, o gesto aqui parecia ser um sinal de afeição. — Obrigada, Jacques.
— É claro. — Ele olhou para as flores e então de volta para ela, mas por fim balançou a cabeça. — Eu queria saber se a senhorita me acompanharia numa caminhada pelo campo?
— Ah, sim! Sim, é claro. Eu estava indo para lá, na verdade.
— Para o… campo?
— Sim. — Eira estendeu a mão, esperando que ele oferecesse o braço para que caminhassem. Ele o fez prontamente, guiando-a para o caminho que levava para a parte de trás da casa e para a cerca baixa dos fundos que levaria ao campo mais próximo. — Estive em uma pesquisa muito importante nos últimos dias, sabe?
— Verdade?
Eira assentiu.
— Sim. E acho que estou muito perto de entender os resultados.
— Isso é ótimo, senhorita. Sabe, eu mesmo sou um grande cientista.
— Verdade?
Jacques assentiu.
— Ah, sim. Mas meu verdadeiro talento é a poesia.
Eira não tinha certeza se ele falava a verdade, então sorriu mesmo assim. Só podia esperar que chegassem logo ao campo.
Henri observou de longe enquanto Jacques levava a mademoiselle Eira até onde os cavalos estavam preparados para a lição dos dois. Ele tinha levado grande parte da manhã colocando flores na sela, estocando os alforjes com comida e água, caso eles quisessem parar para comer. Ninguém poderia dizer que ele não era um bom amigo ou dedicado ao objetivo de Jacques. Mesmo que, para fazê-lo, estivesse fingindo que preparava tudo para o próprio uso.
Era isso que imaginava agora, sentado no canto do campo com as ovelhas enquanto esmigalhava uma folha de grama entre os dedos. Pensava em si mesmo ajudando-a a montar no cavalo branco e montando atrás dela, os dois lentamente cruzando as partes mais bonitas do domínio dos Glynn.
Ele balançou a cabeça e olhou para as próprias mãos calejadas com um suspiro. Ninguém sonhava tão alto quanto um menino dos estábulos.
E lá vinham Jacques e Eira pelo caminho. Jacques estava falando animadamente, movendo os braços em grandes gestos enquanto a mademoiselle o seguia, sorrindo educadamente. Os olhos dela encontraram os cavalos e Henri prendeu a respiração, observando sua reação.
Ela parou no meio do caminho.
Jacques viu que ela os tinha visto e desandou a falar, apontando na direção das criaturas. Eira olhou, incerta, dele para os cavalos. Ah, não, Henri pensou. Ela detestou.
Jacques pegou a mão dela e a trouxe para mais perto dos animais. Eira cravou os calcanhares no chão. Jacques falava em voz baixa, gesticulando para os cavalos. Ela balançou a cabeça efusivamente, seus olhos se arregalando quando o cavalo deu um passo na direção deles.
Henri observou com as sobrancelhas franzidas enquanto Jacques a encorajava a fazer carinho no focinho da Princesa Caramelo, a velha égua de infância da mademoiselle Clémence. Eira o fez, mas com o nariz crispado em uma expressão de puro desgosto que fez Henri sorrir. Pelo amor da mademoiselle pelos animais, era de se esperar que gostasse de cavalos. Os dos Glynn costumavam ser especialmente dóceis.
Henri observou Eira tentar dar desculpas para ir embora e Jacques agir como se não fizesse ideia do que ela estava falando, insistindo para que dessem uma volta. Se convenceu de que, se ele fosse longe demais, interferiria. Chegou a se levantar quando o amigo ergueu a moça pela cintura na direção da cela da princesa Caramelo.
Mesmo dali, Henri ouviu o guincho alto de um rato, que ele reconheceria em qualquer lugar. Jacques se assustou, a moça escorregando das suas mãos e se agarrando à sela e ao cavalo. O cavalo, também sobressaltado, saiu correndo em direção ao campo aberto.
Bem, Henri pensou, já correndo, aí se foi a chance dele.
O dia tinha sido péssimo.
Eira não tinha falado com Henri. Não tinha entendido nada do que Jacques tentou lhe dizer. E Jeanette, ainda no seu bolso, estava provavelmente machucada.
Ah é, e ela estava viajando a diversos quilômetros por hora em um cavalo de carne e osso. Por mais que estivesse escorregando, não conseguia se convencer a agarrar os músculos quentes. Só a ideia já fazia seu estômago se revirar. Mas o chão também não parecia muito agradável, de forma que ela apenas fechou os olhos e esperou que o fim viesse rápido.
Ela ouviu um assobio comprido e o som de um segundo grupo de cascos se aproximando. Abriu os olhos bem a tempo de ver um laço de corda se assentar entre as omoplatas da égua caramelo. Eira seguiu a corda para ver Henri montado em um cavalo preto, cavalgando lado a lado com ela. Ele puxou a corda algumas vezes, falando em tom disciplinador com a égua.
— Ou! Ou! Devagar, Caramelo! Devagar, princesa!
Aos poucos, eles desaceleraram e, assim que Henri ofereceu o braço para ajudá-la a se ajeitar, ela rapidamente o aceitou. Com medo de ser deixada sozinha sobre o animal de novo, ela passou ambas as pernas por cima da sela e pulou para trás da dele, agarrando sua cintura e fechando os olhos firmemente.
— Eu gostaria de descer, por favor.
— Tudo bem.
Henri fez com que os cavalos parassem, puxando ambas as rédeas. Ele desceu primeiro e estendeu os braços para ajudá-la a descer.
Por um segundo, Eira ficou parada, tremendo demais até para se afastar dos cavalos.
— Você está bem, mademoiselle?
Henri perguntou, tocando o ombro dela.
— Você… me salvou. — disse Eira, olhando dos cavalos para ele. Como nas histórias, pensou.
Ele sorriu.
— É. Acho que sim.
Eira assentiu devagar e deu um passo para o lado quando o cavalo preto de Henri se agitou.
— Eu não gosto desses cavalos.
— Por que?
— Os que eu estou acostumada são menos… palpáveis? — Ela deu um sorriso envergonhado. — Menos… orgânicos.
Henri assentiu.
— Como os de folhas da mademoiselle Clémence.
— Sim! Precisamente. — assentiu Eira, abraçando a si mesma. — Eu… eu estava procurando por você mais cedo.
— Por mim?
Ela assentiu.
— Eu quero saber se você gostaria de tomar chá comigo.
— Chá? — repetiu ele.
— Por que está repetindo tudo que eu digo?
Henri riu baixo.
— Acho que só fiquei surpreso. Só isso.
— Por que?
— Por que a mademoiselle iria querer tomar chá comigo?
Hmm… De fato, por que? Por que alguém tinha dito que ele sentia alguma coisa? Por que ela tinha curiosidade de como era viver uma vida plena, sem ter medo de que suas experiências na infância a tivesse arruinado para sempre e a afastado de uma existência comum e pacata?
Ou talvez fosse a empolgação pela oportunidade de uma conexão genuína que não fosse derivada da família (Clémence) ou do dever (os outros funcionários da casa).
— Eu quero que pare de tentar capturar meus amigos. — Eira estendeu a mão para dentro do bolso e retirou Jeanette, que ainda parecia um pouco tonta com tanto movimento. — Quero finalmente apresentá-lo para eles. Espero que não tenham dado trabalho demais.
Houve um momento aterrorizante em que Henri encarou a ratinha enquanto ela esfregava os olhinhos e se levantava. Eira se encolheu, sentindo-se vulnerável e impossivelmente distante da humanidade. Sabia que não era comum que moças fossem amigas de ratos. Se Henri rechaçasse a ideia, ela achava que se esconderia para sempre dentro do solar.
Por fim, Jeanette fez uma reverência curta. Henri riu baixo e então mais alto, até começar a gargalhar. Eira riu também, incerta. Henri balançou a cabeça em consentimento.
— Tudo bem, mademoiselle. Se sua irmã pode fazer carruagens de abóboras, eu posso aceitar um rato ou dois.
Eira achou por bem não mencionar que eram três. Ela só sorriu enquanto os dois caminharam de volta na direção da casa.
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